(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NOS 75 ANOS DE «MENSAGEM», 2


Outra das chaves para a interpretação desta obra reside no seu próprio título. Fernando Pessoa explicou que, primitivamente, chamava-se «Portugal», que depois o alterou «porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua melhor Dinastia» (referindo-se à Sapataria Portugal e ao Hotel Avis). «Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão…» «E o curioso é que o título Mensagem está mais certo – à parte a razão que me levou a pô-lo – do que o título primitivo».

O mesmo espólio do poeta mostra-nos que esse título Mensagem é concreto por razões profundas: reconduzindo Mensagem ao latim, e jogando com as suas letras (a lição é de António Quadros e de António Telmo), encontrou os seguintes significados: MENS AGEM, a mente / o espírito actua, MENS AGITAT MOLEM, a mente, o espírito move as massas / a matéria, ENS GEMA, o ente pérola, MENSA GEMMARUM, a mesa das pedras preciosas (a Tábua / Távola de Esmeralda dos Hermetistas).

Como se vê por este jogo de letras e palavras, herdeiro de uma tradição filológica que já encontramos no “Crátilo” e que atinge o seu auge na prática de alguns kabbalistas, Mensagem é um título cifrado, coroando uma obra em que o espírito, pela palavra, procura mover a matéria-prima de um país cujo nome se ocultou no nevoeiro do esquecimento. Não por acaso, Mensagem tem o mesmo número de letras de Portugal (e do próprio nome do poeta), oito. Sendo este um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário» (a afirmação é dele), é lógico que o oito seja o número simbólico desse título, assinalado por alguém que se dizia «um templário português». Por outro lado, sabemos que, em termos de simbologia bíblica (a Bíblia, uma obra escrita em termos de simbologia transcendental»), o oitavo dia é o momento da Criação feita pelo Homem, completando a obra divina inicial. E também não é certamente por acaso que os poemas de Mensagem são 44, isto é, 4+4= 8.

António Carlos Carvalho, in "Do Tamanho da Alma", prefácio a Mensagem, Caixotim Edições, 2007.

1 comentário:

  1. O número de poemas contidos na «Mensagem», 44, é o mesmo número que se obtém da gematria da palavra AMOR, no alfabeto português ( A-1 M- 12 O-14 R-17 = 44). Mais: é sabido que, geometricamente, Portugal é um duplo quadrado (como bem observou Carlos Calvet), tendo no limite dos dois a cidade de Tomar (sede os Templários). Assim sendo, o 4 duas vezes é significativo. Em «Os Lusíadas» verificamos que a organização das estrofes é em número de 8 versos (mais uma vez o número templário). Curiosamente, o verso 44 (canto I) diz «De aumento da pequena Cristandade», sendo o anterior «E não menos certíssima esperança». Mas há mais, muito mais, a que os intelectuais chamam «pura coincidência!» ou «fenómenos do aleatório!». No Canto II, o verso 44 reza assim «Lhe diz que a mais da gente em Cristo cria». No Canto VII o verso 44 é «Da cidade Hierosólima celeste», ou seja, a Jerusalém Celeste. Já são muitas coincidências…
    E já agora, que estamos na comemoração da Mensagem, e que se fazem debates variados, longos painéis dedicados à questão de Pessoa se ter intitulado «Supra-Camões», os intelectuais portugueses (onde não cabem obviamente o António Carlos Carvalho – por quem tenho admiração - e os que gravitam à volta do pensamento português) quando tratam de Fernando Pessoa místico e esotérico (e que, na quase maioria, são como os lavradores que só trabalham em gabinetes), ficam sempre perturbados no assunto, não querendo admitir uma tão baixa vaidade do poeta intitulando-se superior a Camões, mas não sabendo o que admitir… O assunto é simples, terrivelmente, simples, mas dizê-lo seria provocar o riso. Cada um deverá lá chegar por si.
    Um abraço ao António Carlos Carvalho, pela boa oportunidade de nos lembrar o 44 na Mensagem.
    Eduardo Aroso

    ResponderEliminar