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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

POETAS LUSÍADAS




Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Amén.

Natália Correia

3 comentários:

  1. Creio, também eu, e em contrapartida, que esta «profissão de fé» da poetisa demonstra, para quem ainda não entendeu, que um poema pode ser um tratado filosófico; que sob essa forma o pensamento alcança alturas sublimes; que sob esta forma breve voamos mais longe do que com muitos textos longos e pesados; e que, por fim, Natália Correia era bem mais do que simples figura de Botequim ou espalhafatoso animal de palco...

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  2. Bom dia!

    Tenho a mesma opinião de Natália. Para além da parlamentar, com uma oratória sempre aguçada e crítica, a poetisa que nasceu nas Ilhas do Espírito Santo, digo Açores, sempre revelou grande profunidade mística, sentindo bem a luta da carne e do espírito, admitindo, por fim, a vitória do último ou pelo menos a sua supremacia. Permitam-me que transcreva este poema de sua autoria.


    «O Espírito

    Nada a fazer amor, eu sou do bando
    Impermanente das aves friorentas;
    E nos galhos dos anos desbotando
    Já as folhas me ofuscam macilentas;

    E vou com as andorinhas. Até quando?
    À vida breve não perguntes: cruentas
    Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
    Ave estroina serei em mãos sedentas.

    Pensa-me eterna que o eterno gera
    Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
    Em ileso beiral, aí espera:

    Andorinha indemne ao sobressalto
    Do tempo, núncia de perene primavera.
    Confia. Eu sou romântica. Não falto».

    Natália Correia, in “Poesia Completa”

    Com os cumprimentos do Eduardo Aroso

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  3. Queria eu dizer que tenho a mesma opinião sobre Natália.

    Eduardo Aroso

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