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Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

ANTÓNIO TELMO, SEMPRE



Quando era criança, meteu-se-me na cabeça que era capaz de surpreender o instante em que adormecia. Quando me deitava, ficava à espera, atento à sua chegada. Claro que não tinha qualquer êxito, mas isso já era a obscura certeza (há certezas obscuras e são as mais fecundas) de que a alma pode, em certas condições, assistir ao que se passa com o corpo. Do mesmo modo podemos conceber um estado superior do espírito que torne, para o dia e para a noite, apreensível o que é inapreensível para os sentidos.
Não é no átomo que está o poder, mas na cisão dos seus componentes abrindo uma brecha onde explode a energia contida. A electricidade está presente em toda a matéria, à espera de uma brecha por onde se manifeste. A nuvem abre-se num ponto infinitesimal por onde o raio eclode. Isso dá-se por relação com outra nuvem de sinal contrário ou por relação com a terra. Entre o macho e a fêmea, na relação nupcial, no seu movimento culminante, as coisas passam-se do mesmo modo. Do vácuo só há noção. O que se abre é imediatamente preenchido por uma força, (…).

António Telmo, Viagem a Granada, Fundação Lusíada Edições, 2005, pág.25

1 comentário:

  1. Este texto subtil de António Telmo despertou em mim a seguinte imagem: É no "espaço" (o que é conhecido por pausas) entre os sons (organizados) que o sentido cabal da música se revela.

    Ficarei eternamente grato ao autor- para além do muito mais, um bom e singular amigo - que me ofereceu a obra, com uma dedicatória, a tinta de caneta permanente, de um teor tal, que obviamente nunca fui merecedor. Mas um dia, quando o tempo levar a tinta (que não será sempre permanente),as palavras continuarão permanentes em mim, num espaço algures do meu ser.

    Eduardo Aroso


    Eduardo Aroso

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