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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

REENTRAR NA «CATEDRAL», 1


Catedral
Isabel Xavier

Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Achar, nas palavras, a pureza
Anterior ao pecado original.

Como quem eleva acesa vela
Sobre hóstias de palavras consagradas
Saber de entre elas, aquela
Que insondável, única, bela
À luz de mistério que o vitral revela
Revele verdades reveladas.

Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Dizer a palavra que devolva
A pureza da água baptismal.

Entre revoltas nuvens de incenso
Desvendar o simbólico local
Onde, além do Ser, além do Tempo
Se separa o Bem e o Mal.
Nas forças, orando, invocadas
Busco o primeiro sentido das palavras
Aspiro a verdades inspiradas.

Quero escrever este poema
Como quem cumpre um ritual
Descobrir, no Verbo, a beleza
Com palavras construir a catedral.

1 comentário:

  1. Ainda que eu não creia no chamado «pecado original», mas no Verbo original (do qual se foi abusando e, por isso, colhendo o amargo fruto), o poema leva-nos, da melhor maneira, à procura dessa sensibilidade dos tempos primeiros, quando o Ser humano se comunica conscientemente pela Palavra que não está manchada; é sagrada.

    Versos muito belos da Isabel Xavier.
    Eu já conhecia o poema, mas é bom olhá-lo de novo.

    Saudações do
    Eduardo Aroso

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