(os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores)

Leia aqui a homenagem da Fundação António Quadros a António Telmo.



sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ABDEL HAYY, IPSIS VERBIS

Reflexões entre Brasil e Portugal
1. Há quem negue, mas não deixa de ser interessante que o Ceará, uma zona desértica do Brasil, tenha um nome tão semelhante ao deserto magrebino: Sahara. Poderiam os mouriscos, viajando nas caravelas e chegados a uma zona cuja paisagem lhes era tão familiar ter atribuído o único nome que descreve essa imensa aridez ardente na sua língua natal? Será, pois, o Ceará, o Sahara do Brasil?
2. Em Portugal, um pouco por todo o lado, há lendas de mouras encantadas, de tesouros dos mouros, de princesas ou príncipes mouros. Há quem diga que o povo “ignorante” atribui a tudo o que seja antigo o atributo de “mouro”. É um facto, mas isso não explica a razão. A razão deve ser uma só: o povo é o guardião da memória “colectiva” do país e, neste caso, aquilo que ali se guarda é a memória de que houve um tempo maravilhoso que este país viveu, um tempo que foi o do Portugal mourisco e, por isso mesmo, também cristão e judeu. A ingratidão e o complexo do discípulo que quer matar o mestre é que fazem com que se acabe por esquecer entre as elites, aquilo que o povo “sabe” muito bem.
Dirão os eruditos que muitas dessas lendas são mesmo pré-românicas, quanto mais pré-islâmicas. Mas o importante aqui não são as lendas, mas o facto de o povo ter revestido essas lendas (por todo o país, de norte a sul!) com uma veste “moura” e não outra. Só quem tiver perdido um mínimo de objectividade é que pode ficar indiferente à quantidade de lendas ligadas a “mouros”.

Sem comentários:

Enviar um comentário