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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

POEMA INEXPLICÁVEL



















O breve início / O longo indício

Cynthia Guimarães Taveira

Disseste:

- A vida passa como um espelho
espelhando apenas um lado
Os dedos tocam o fruto
e, do outro lado do espelho
tocam o sol.

Digo-te em segredo, agora:

Os olhares cruzam-se indiferentes
Na noite em que tudo se passa
e, do outro lado, há um mergulho
No espelho das águas das almas

Vi-te chegar numa corrida
Assim de negro, branco e vermelho
Pausa no tempo das cores
Ouço atentamente os seus dons

O olhar pára atento
Pausa no tempo, sem dúvida
Fixos os olhos não param
Voando dentro uns dos outros

Param os momentos em aproximação
Parados por um sorriso que se passa
Tremendo nesse lado do espelho
Cedo, cedo o sorriso te devolve o real

Perguntas se irás para a morte
Sim, irás e depressa
Pausa no tempo em que és alto
Foge depressa para o mar

Perguntas inocente no mar:
Mas o que se passa afinal?
Pausa no tempo da tua voz a fugir
Consolo breve na paisagem

Perguntas se te juntas a todos
Respondes que nada te interessa
Voas abaixo da montanha
Voas guiado afinal

Giras em torno do monte
Em espirais que são só caminhos
Pausa no tempo do centro
Em olhares de gatos que te adivinham

Sobes acima devagar
O outro lado do espelho
É  a resposta afinal
Espanto dos espantos depois
De anos e anos em espera

Pausa no tempo dos dias
Em atenção aos movimentos
Teu coração é depois erguido
Em dor, mistério e saudação.

Salvé.

2 comentários:

  1. Amiga Cynthia,

    A poesia tem esse atributo, e talvez por isso seje bela: é inexplicácel por meios que não sejam apenas os do próprio poema.

    Eduardo Aroso

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  2. Caro amigo Eduardo: no caso deste poema foi mesmo isso, os meios não são os do próprio poema. É uma poesia que se "arranca" da própria vida sendo que grande parte dessa vida seja interior.
    Tenho a impressão que o Eduardo deve ter sido o único a entender o poema o que o torna paradoxalmente explicável para si. Obrigada.
    Cumprimentos da
    Cynthia

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