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quinta-feira, 5 de maio de 2011

MAIO



















A Perfeita Harmonia

Maio é o tempo da perfeita harmonia.
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campo se abraçam as flores e as cores.

O cuco saúda o Verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.

O Verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.

A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta de flores
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga:
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.

Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto em bruma da cor das flores do tempo de Maio.

Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.

Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do Verão já se anunciam em gomos formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.

O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.

Os dias de Maio são de alegria e de esplendor
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E os jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o Verão anunciam, o tempo é de paz.

E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz da água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.


Poema Irlandês, Autor desconhecido (séculos IX-X), retirado do livro "A Perfeita Harmonia -
poemas celtas da natureza", tradução de José Domingos Morais, Edições Assírio & Alvim, 2004,
Pág. 16

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