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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

OS POETAS LUSÍADAS, 27

[da série Nocturnos]

MEDITAÇÃO DA NOITE

Vinha alargando a noite… Eu continuava,
Já rouco, e aos berros sem decência alguma.
Ai boca estéril, tumultuosa, e escrava!
Cuspia fumo, pó, fel, sarro, espuma…

Minh’alma aflita ouvia-me, e aguardava,
Pesando-me as palavras uma a uma:
Mas, entre tantos sons, só não ressoava
A Palavra essencial que me perfuma!

Quem me julgou – julgou-me, pois, por tudo
Menos por essa Nota inexprimida
Sem a qual nem respondo aos que me chamem…

E eu fiquei só, desconhecido, mudo,
Pairando, estranho à minha própria vida,
Per omnia secula seculorum…, amen.

José Régio

1 comentário:

  1. ENGANO NOCTURNO


    Vou atado à noite dos perfumes
    Com o corpo vivo da tentação
    Sem ouvir a boca do coração
    Que lê no livro antigo dos ciúmes

    Que sou uma pétala de cardumes
    Exposta aos delírios da razão
    Sem que eu conheça o que farão
    As palavras de amor que assumes

    Como uma asa breve que não voa
    Porque todo o sonho que magoa
    É a face nua do erro que corrói

    A pureza do fogo que não mói
    Criando ao estado que me destrói
    A beleza de ser quem não me doa.

    Jorge Brasil Mesquita

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