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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

NO CORAÇÃO DA ARTE, 18

Cynthia Guimarães Taveira




Os Universos
Há uma pilha de livros em cima daquela mesa. São livros de arte. São livros grandes com grandes imagens. Cada livro é de um pintor situado algures na corrente temporal da história da arte. Mas nada disto é bem assim. O que lá está são vários universos. Cada pintor criou o seu. Universos paralelos empilhados numa torre ascendente. Os esfuminhos de Leonardo, as bocas rosadas de Botticelli, as mulheres de Modigliani, os azuis de Chagall. Universos paralelos vivendo em uníssono com o nosso. Lado a lado com aqueles descritos por místicos e xamãs. Um universo só não basta. O inconformismo é a fonte da arte. Essa infelicidade permanente com o tão pouco que se tem. Mais um pouco de rosa nas tuas faces rosadas – diz o pintor ao modelo. Mais luz no fundo do teu olhar e o mundo será perfeito. Uma última pincelada dada como a última ordem da batuta numa sinfonia e remata-se outro mundo na tela. Esse novo mundo agora transborda enfim livre dirigindo-se ao nosso olhar. Não o recusamos, antes o desejamos. A obra é a citação de um universo inteiro.

1 comentário:

  1. SURDO DO NADA

    O Universo é delicado e gentil com quem espirra sobre o quadro que fecunda as cores dos seus actores, que em viagens de estímulos, representam as peças que o teatro da vida escreve. Ou será, pinta? O que é que o Universo pinta? O que é que o nosso cérebro pinta? Universo e cérebro são uma e a mesma Arte que se expande em conflitos de cores, em risos seculares de ventanias coloridas que espalham estrelas fisionómicas que os corações cósmicos fixaram aos olhares do prazer, que esmaga Pollock com púcaros de irracionalidades, que rege os regimentos mortíferos de Goya e Picasso, que enlouquece a loucura distorcida de Dali, que nos agride ou ama, conforme nos proclama ou aclama soberanos da matiz do nada. E o nada é o Universo que nos viaja, sublinhando, em cada momento da sua passagem, os heróis que fazem das cores a arca sublime que é o sótão dos livros que não se escrevem com cores, porque todos eles são as cores do nada. Não me ouçam no Universo, porque eu sou o surdo do nada.


    Jorge Brasil Mesquita

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