A rigidez cadavérica explica o centralismo e a burocracia, maleitas que execram a liberdade e a invenção. Este ponto é decisivo, na medida em que nos ajuda a compreender a pérfida e porfiada perseguição que a ditadura irá mover ao livre-pensamento criacionista da Escola Portuense. José Marinho esteve preso, durante o Estado Novo, por motivos políticos; e viu-se impedido de ganhar o seu pão como professor, conforme, no póstumo Caderno de Lembranças, nos adverte Agostinho da Silva, que, pela sua parte, preferiu oportunamente mudar de ares, não sem antes ter sido demitido do ensino oficial (por se recusar a assinar a lamentável Lei Cabral) e haver conhecido os calabouços do regime. Jaime Cortesão, um bravo que escrevia Nação com letra grande, esteve exilado, anos a fio, em terras de Vera Cruz, onde, com Agostinho, seu genro, pontificou entre os maiores. Álvaro Ribeiro, o tão invocado Álvaro Ribeiro, não obstante deter um título de licenciatura, sofreu as passas do Algarve, até conseguir um emprego razoavelmente digno, porém modesto. Motivações políticas pesaram na sorte de exílio que, na década de sessenta do século passado, António Telmo viveu em Brasília, ele que, poucos anos depois, já no tempo de Marcello Caetano, enquanto fundador e director de uma escola no Redondo, não hesitará em nomear docentes que se opunham ao regime.
Claro está que o golpe fundamental fora rudemente desferido pela Ditadura Militar, logo em 1928, com a publicação do decreto que determina o encerramento da Faculdade de Letras do Porto, prova de que o ultramontanismo emergente sabia como fazer as coisas. Salazar – prosélito dilecto dos militares revoltosos, que, logo em 3 de Junho de 1926, o nomeiam Ministro (segundo parece, apenas recusa o cargo por razões de saúde) – irá levar três décadas bem contadas a abrir outra casa com o mesmo nome e diverso espírito na capital da liberdade. De permeio, fora mister que o veneno do esquecimento se insinuasse no curso das gerações, para que, ao cabo e ao resto, no velho burgo nortenho já pouco sobrasse da luminosa herança leonardina.
Tenho vindo a ler este tema, e aguardo a conclusão com grande interesse... mas na referência aos 'nativismos', e em particular na referência ao integralismo e aos monárquicos (e à distância que apesar de tudo mantiveram face ao Estado Novo), surgirá sempre a questão da transformação da nação-alma em Estado (por via 'corporativa' ou outra), ou seja na sua juridificação.
ResponderEliminarQuis dizer no comentário anterior (não ficou claro) que essa juridificação 'mineraliza', e a nação é viva, se é uma alma. Como se organiza o poder ou o gioverno, nesse caso - é outra questão, diferente desta.
ResponderEliminaraliás Pedro Martins:
ResponderEliminarCaro Casimiro,
Como poderás verificar pelas próximas entradas, a noção de Estado não foi aqui autonomamente considerada; como, de resto, o não foi em Montemor. Mas sempre a política há-de estar subordinada à pedagogia, e esta à filosofia...
Um abraço
PM