terça-feira, 3 de maio de 2011
ANTÓNIO TELMO, SEMPRE
“ O «ocultismo» (hoje prefere-se dizer «esoterismo») não é evidentemente aquilo que nos livros se expõe de ocultismo. As almas melancólicas são atraídas pelo esplendor de mistério que deles se desprende, mas também pelo jogo fácil e bizarro de imagens, aparentemente distantes, que se projecta, conduzido pela metáfora, no espelho das correspondências. Nos espíritos mais experiente e adultos, o movimento das imagens obedece a leis precisas da razão poética.
Com a ideia de impedir que a arte poética degenere nesse jogo da fantasia onde a relação de géneros pela metáfora não culmina num género superior, unitivo e iluminante, mas se perde num associar de fantasmas mentais ad infinitum, automático e vazio, tentaremos nesta introdução mostrar algumas directrizes essenciais para um organon da razão poética especulativa.
Não há progressão sem movimento triádico. O paradigma da progressão é o andar do homem que se faz a três tempos e não a dois, porque o esquerdo e o direito estão misteriosamente ligados a um centro de energia no baixo ventre. O pensamento metafórico automático procede da relação de duas colunas, representáveis na tábua pitagórica transmitida por Aristóteles:
Limite Ilimitado
Ímpar Par
Uno Múltiplo
Direita Esquerda
Masculino Feminino
Imóvel Em movimento
Rectilíneo Curvilíneo
Luz Treva
Bom Mau
Quadrado Oblongo
Seja qualquer ser sensível, o sol, por exemplo.
Ligando-lhe um predicado próprio, diremos que «o sol é luminoso». Aquilo que na coluna de correspondência, onde está Luz, no vai permitir fazer depois, é atribuir ao substantivo sol predicados sucessivos relativos aos restantes termos. Assim, o sol é luminoso, masculino, par, bom, e, perante um absurdo inevitável como o de dizer que é quadrado, será também possível tomá-lo por um outro aspecto que é aquele pelo qual determina os quatro pontos cardiais.
A imagem do sol sugere a imagem da lua. O aprendiz da arte poética põe-na em relação com a outra coluna: a lua é feminina, por exemplo. Desenvolve depois operações mentais similares.
Por este procedimento, no qual deslizam frequentemente as almas poéticas preguiçosas, é possível ligar entre si todos os seres sensíveis e todas as ideias, enquanto imagens, repartindo-os em duas grandes ordens de contrários. Como, por outro lado, cada ser sensível é curvo num aspecto, rectilíneo noutro, luminoso ou impar ou masculino e os seus contrários se o aspecto muda, o procedimento acaba por identificar o dois, regressa de novo ao um.”
António Telmo em “Gramática Secreta da Língua Portuguesa”, Guimarães & Cª Editores, 1981, pág. 9,
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