Lamento muito mas não posso alinhar no coro angélico que pretende canonizar José Saramago, agora que morreu lá em Lanzarote onde se tinha auto-exilado. Sei que é uma coisa típica portuguesa: sempre que alguém morre por cá passa automaticamente a ser uma excelente pessoa, com lugar garantido no Céu.
Já tinha acontecido o mesmo com Álvaro Cunhal (que pretendeu transformar Portugal num satélite do Sol soviético) e agora repete-se com outro camarada.
E se falo de Cunhal agora é também porque Saramago teve -- convém lembrar -- comportamentos estalinistas públicos:
- primeiro em 1975, quando fez parte da direcção do «Diário de Notícias» e «saneou» (expressão característica dessa época sinistra) 24 jornalistas desse mesmo jornal, onde fora colocado para actuar como comissário político -- e nessa altura, eu, que nunca tenho participação política por descrer da mesma, desci à rua e juntei-me à manifestação na Avenida da Liberdade para protestar contra os tais saneamentos;
- depois quando mandou apagar (à boa maneira estalinista) o nome daquela aquem devia tanto -- a escritora Isabel da Nóbrega, uma grande senhora e excelente escritora que lhe ensinara a comer à mesa e lhe abrira portas do mundo literário -- nas dedicatórias dos livros que escrevera no tempo em que viveram juntos e os substituiu, nas reedições, pelo nome da nova mulher, Pilar del Rio, que nem sequer conhecia quando escreveu e publicou «Levantado do Chão», «Memorial do Convento» e outras obras.
Vista de Lanzarote
Aliás, valia a pena analisar a obra de Saramago tendo em vista os livros que escreveu no tempo de Isabel da Nóbrega e os que escreveu depois, no tempo de Pilar del Rio. Só para perceber as diferenças e tirar as necessárias conclusões…
E já agora convém igualmente lembrar esses livros lamentáveis deste último período, «O Evangelho segundo Jesus Cristo» e «Caim», iniciativas de marketing para chamar a atenção, através do escândalo provocado, sobre a própria obra. Certamente foi Pilar del Rio que lhe forneceu os temas e os materiais para tais iniciativas. Nada melhor do que um escândalo ou uma polémica para «dar vida» às vendas nas livrarias.
E a manobra resultou, como sabemos. O Homem é como uma árvore, e, tal como a árvore, reconhece-se pelos frutos. Não se pode separar o Homem e a obra como se fossem os compartimentos estanques de um submarino.
Na nossa avaliação de um escritor, creio nisso absolutamente, tem sempre de entrar em linha de conta o ser humano que ele é, ou foi, e o que ele fez do dom que recebeu de Deus. E claro que, para além desta poeira dos dias de hoje, o que resta, e permanecerá, é o Juízo Final -- e esse não pertence aos homens, mas a Deus. De quem, aliás, Saramago disse e escreveu tudo o que sabemos. E que nos envergonha.

Eduardo Lourenço disse hoje que, relativamente à Bíblia, Saramago a “transformou numa epopeia fantástica”! E parece ter dito bem, pois o autor de «Caim», no final da obra, - quem sabe se, lá no fundo, sentindo-se mais criador que o Criador(!) - coloca um ponto final na «epopeia», rematando com a frase «A história acabou, não haverá nada mais que contar». Embora se refira à história de Caim (a tal incarnação do mal!!!), o escritor parece ser o “Alfa e o Omega”. Em toda essa fantástica “epopeia” a que o seu contemporâneo se refere e não havendo nada mais do que a sua inteligência retirou (?!) do SIMBOLISMO de CAIM, parece que antes de Saramago havia o caos e depois dele nada mais haverá. Podemos contar que um dia destes ainda vai parar aos Jerónimos e, já se espera, com a bênção da Igreja!
ResponderEliminarEduardo Aroso
Republicado na NOVA ÁGUIA e no MILhafre
ResponderEliminarAbraço
Saudações Extravagantes!
ResponderEliminarAbraço
O que mais me chateia em Saramago -mas que também chateia, não são as suas afrontas à igreja católica e aos cristãos, nem tão-pouco o ele ter chamado filho-da-puta a Deus, o que me chateia mesmo neste homem, o escritor José Saramago que hoje tantos elogiam em Portugal, foi a sua defesa de integração de Portugal em Espanha como mais uma província, a exemplo da Catalunha, País Basco ou Galiza.
ResponderEliminarEste homem, Nobel da literatura e arauto do iberismo, não era sociologicamente coerente e demonstrava um ódio visceral e preconceituoso à História de Portugal e um grave desconhecimento da realidade espanhola, levando-o a dizer; ter esta existido de forma mais ou menos pacifica ao longo dos anos. Lavando assim, o sangue derramado por Castela e a sua função na Península ao nível da Grande Sérvia e esquecendo Franco, o ditador que descaracterizou a Catalunha proibindo a língua e os usos, em prol de uma Espanha Una.
Saramago fez jogo sujo defendendo uma patética tese de paz e união ibérica, esquecendo que Castela é responsável por exorcizar Portugal dos livros de História espanhóis, por descaracterizar Olivença esmagando e humilhando a cultura portuguesa e fazendo crer que Castela aceitaria a língua portuguesa, num discurso de meias verdades e distorcendo a História.
Este homem, para além de ser um bom ou mau homem, um bom ou mau escritor, era sobretudo um muito mau português.