tag:blogger.com,1999:blog-274457258080395258.post828443950522712759..comments2023-11-15T08:52:05.382+00:00Comments on Cadernos de Filosofia Extravagante: EXTRAVAGÂNCIAS, 41Serra d'Ossahttp://www.blogger.com/profile/11433956200505541014noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-274457258080395258.post-71630423929024921542009-12-13T19:09:36.125+00:002009-12-13T19:09:36.125+00:00Oportuno, como sempre, o Pedro Sinde diz no seu ar...Oportuno, como sempre, o Pedro Sinde diz no seu artigo o seguinte: «se passarmos a tendencialmente escrever como falamos, vamos omitir letras que nos ajudavam a identificar a etimologia da palavra. (…) Se não soubermos a etimologia das palavras, não saberemos o que estamos a dizer quando dizemos, desconheceremos a sua origem, a nossa história, a nossa memória. Este acordo é em tudo contra a etimologia, porque privilegia a oralidade (haveria, de resto, que perguntar qual oralidade, porque cada um destes países tem uma oralidade maravilhosamente diversa).»<br /><br />Temos assim duas faces da mesma “moeda, e na complexa fixação e evolução da Língua elas influenciam-se continuamente. Porém – destaque-se – em níveis diferentes. Diz Pessoa «A linguagem falada é natural (itálico), a escrita civilizacional (itálico). A linguagem falada é momentânea (itálico), a escrita duradoura (itálico)».<br /> Na influência recíproca da oralidade e da escrita, sabemos que a primeira, num processo lento e natural – como também acentuou o Pedro Sinde – influencia a palavra escrita, fixando nesta determinados termos e expressões. Mas deve ser um processo natural, e não com acordos assinados à maneira dos políticos. Então, a palavra escrita, pela pena dos seus cultores, fixa, com o tempo, o que de melhor e mais significativo colhe da experiência do falar popular. Mas, curiosamente, até neste campo pode haver níveis diferentes. Vejamos dois exemplos. O primeiro o de um escritor que utiliza uma linguagem excessivamente regionalista de expressões e termos próprios, típicos de um falar do povo, e que, podendo conter certa riqueza linguística, a sua escrita poderá não ter um cunho e um perfil desejável, no sentido de ser universal - tendência de qualquer grande Arte. O outro exemplo pode ser o de Camões que fixa na escrita de «Os Lusíadas», nos que anseiam a aventura e na figura de negação que é o Velho do Restelo, o significado essencial de Urano e Saturno (movimento contra a inacção; revelação contra a cristalização; destemor contra o medo); ou então o exemplo de Pessoa quando escreve «Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal!» Repare-se no quanto de SENTIMENTO E VIVÊNCIA SECULAR DE UM POVO E DE UMA PÁTRIA (por isso universal o poema) ESTÃO CONTIDOS nos verso pessoano! O poeta extrai e fixa, na escrita, a quintessência da alma de um povo. <br />Resumindo: a simplificação simplista (seja-me perdoada a expressão) da ortografia do acordo apagará, no futuro, a memória da evolução (natural) da Língua. É claro que este acordo ortográfico está na corrente do mundo, a da “formatação de tudo”. Pessoa tinha razão e por isso alertou. O acto social que é o da palavra falada (pese embora o que possa ter de cultural de permeio) e pese ainda o facto da actual massificação da gravação da voz humana, é sempre o episódio quotidiano, como, mais ou menos, é o jornal diário no plano da literatura, salvo os tradicionais cadernos próprios (que já não existem), ou como é a linguagem de um contrato comercial que, no que refere, confere exactidão, mas não civilização!<br />Ainda quanto à escrita - por só ficar o melhor do melhor para o futuro longínquo - é que Faguet se referiu à concisão como a condição necessária para passar a salvo de todas as mudanças na história. Mas há que meditar no facto de a memória da vida (que as palavras encerram) poder ser interrompida. Isto anda a par, pelo menos em Portugal, da pressa que se tem verificado em «repor a história», que mais não é do que fazer a história da actualidade CONTRA o que não é actualidade. Tudo isto facilita assim o que de tempos a tempos acontece: o aparecimento (a par mas subtilmente afastando os que sabem,) de muitos dispostos a “educar as massas”(!). <br /><br />Eduardo ArosoEduardo Arosohttps://www.blogger.com/profile/09080488351751307369noreply@blogger.com